‘O Mínimo Que Eu Poderia Fazer’
O Que uma Família Tasmaniana Sacrificou para Ir ao Templo
Assim como muitos dos tasmanianos modernos, Leona Bender cresceu sabendo que havia “um ou dois irlandeses criminosos” nos ramos da sua árvore genealógica. Mas foi o restante que ela conhecia sobre aquela árvore que acabou destacando Leona da média dos moradores de Glen Huon, pequena vila no estado insular em que cresceu, um pouco ao sul do continente australiano.1
“Tenho lembranças muito vivas das visitas de meus tios-avôs e tias-avós, de primos e meus avós, com mesas cobertas de maravilhosos bolos caseiros de todos os tipos, e de minha mãe, com sua grande habilidade de extrair sutilmente a data de um casamento ou um falecimento ou alguma outra informação genealógica necessária”, relembra Leona.
Foi por meio da persistência e da habilidade de sua mãe que Leona começou a valorizar a história da família. “Lembro-me de minha mãe, sentada por horas a fio à mesa da cozinha, preenchendo folhas e folhas de grupo familiar”, comenta. Durante as férias escolares, a família Bender pulava no carro e viajava para cemitérios em toda a Tasmânia, transcrevendo as inscrições nas lápides e lamentando em silêncio quando não havia essas inscrições nos túmulos de seus antepassados.
O pai de Leona filiou-se à Igreja em 1930, e sua mãe foi batizada em 1949, depois do nascimento de Leona, mas com tempo suficiente para transmitir à filha sua dedicação pela história da família.
“As histórias de deixar o país de origem, viajar para Tasmânia, [e] começar uma nova vida eram muitas e variadas”, Leona disse sobre seus antepassados; “mas todos vieram com sacrifício, sofrimento, morte precoce e lutas diárias. Sempre senti que o mínimo que eu poderia fazer era assegurar-me de que eles teriam acesso às bênçãos eternas que, de alguma forma, vão compensar o que eles fizeram por mim”.
E quando Leona chegou à adolescência, a possibilidade de fazer isso finalmente se tornou realidade. A residência da família de Leona ficava praticamente à distância de metade do mundo do templo mais próximo; mas em 1955, foi realizada a cerimônia de abertura da terra para um templo a apenas 2.500 quilômetros de distância, em Hamilton, Nova Zelândia.
Para a família Bender, a oportunidade era boa demais para acreditar e muito preciosa para perder; pondo de lado a praticidade, a família decidiu que precisava estar na Nova Zelândia para a dedicação.
A decisão foi recebida tanto com descrédito como com alarme pelos amigos e familiares — e talvez por um bom motivo. Não só o transporte para a Nova Zelândia ultrapassava em muito os recursos financeiros da família, eles dependiam de sua plantação de maçãs para compor sua renda, e a dedicação estava marcada para abril — exatamente na época da colheita de maçãs na Tasmânia.
Mas os pais de Leona estavam determinados a ir com os quatro filhos participar da dedicação e ser selados logo depois. Assim, eles apertaram o orçamento ao máximo e começaram a procurar meios de ganhar dinheiro extra para as passagens de avião. Os filhos venderam a coleção de histórias em quadrinhos, e a mãe de Leona vendeu suas revistas de tricô. A família colheu e vendeu frutas silvestres durante o verão, e o pai de Leona plantou um grande canteiro de ervilhas que a família cultivou e vendeu em um mercado local.
“Como eu odiava essa tarefa de agachar e levantar, ajoelhando-me na terra, e as manchas verdes que ficavam em minhas mãos”, disse Leona. Às vezes, ficava desanimada quando seu magro rendimento parecia tão pequeno, comparado ao valor que a família precisava economizar.
Mas, de alguma forma, a família Bender conseguiu juntar dinheiro suficiente para seis passagens de avião para o país vizinho — mais caro que um barco, eles sabiam, mas permitia um retorno mais rápido para cuidarem das maçãs. Chegaram à Nova Zelândia com as mãos manchadas de verde, a tempo para a dedicação.
Os Bender e outros Santos que tinham viajado para a dedicação foram acomodados em umas camas de campanha armadas sob um pavilhão da pista de corrida, mas Leona se recorda que ninguém reclamou da precariedade das acomodações. Chegar ao templo foi uma experiência emocionante para Leona. “Ver todas as bênçãos prometidas ali, ao nosso alcance, pela primeira vez, (…) foi realmente memorável”, comentou.
Os pais de Leona assistiram à primeira sessão dedicatória do templo, e as crianças assistiram à segunda. Durante a dedicação, Leona foi tomada por um senso de obrigação espiritual gerado pelos sacrifícios que sua família tinha feito para estar lá. “Fiz uma promessa a mim mesma de que os esforços de meus pais não seriam em vão”, disse.
Poucos dias depois, a família Bender foi finalmente selada; e então — as maçãs precisavam deles — voltaram imediatamente à Tasmânia para a colheita.
A viagem ao templo modificou a vida dos Bender de maneira singela e sutil. Leona recorda: “minha mãe comentava com frequência que, de alguma forma, a vida ficou diferente — o serviço na Igreja adquiriu um novo significado, e a vida em família assumiu nova dimensão”.
A viagem se tornou ainda mais importante três anos depois, quando o pai de Leona morreu de repente, aos 43 anos de idade. Anos depois, Leona disse que se a família não tivesse arriscado tudo para assistir à dedicação, provavelmente não teriam conseguido fazê-lo no período de vida terrena do pai.
“O conhecimento de que estaremos juntos novamente tem sido uma força motivacional muito forte em minha vida”, disse ela. “Quando a tentação aparece, quando fico desanimada, sustenta-me o fato de que, para estar com meu pai eternamente, certas escolhas não são negociáveis”. E acrescentou: “Nunca mais reclamei das mãos manchadas de verde”.